Antes de mais nada, alerto que este post é grande. Bem grande! Afinal, foram seis dias na Patagônia. Depois de muitos posts abandonados, percebi que é muito mais fácil escrever tudo de uma vez só. Então, prepare seu cafezinho e vamos logo!Para informações práticas, aquelas essenciais – tipo quem, onde como e quando -, clique AQUI.
A PRIMEIRA VEZ A GENTE NUNCA ESQUECE / 2 DIAS EM BUENOS AIRES
A primeira vez que fui à Patagônia foi em janeiro de 2007. Foi minha primeira viagem totalmente solo, sem conhecer ninguém e arranhando horrores no espanhol, morto de medo da grosseria dos argentinos e ainda mais do temíveis batedores de carteira de Buenos Aires. Logo no primeiro dia, ainda em Buenos Aires, meus medos desapareceram completamente, soube que mesmo se passasse algum perrengue, eu saberia me virar. Quanto ao idioma, me obriguei a falar. E é muito fácil ser entendido quando você ouve o outro e simplesmente tenta falar. Porque, por pior que seja seu conhecimento e sua pronúncia, o outro sempre achará simpático o seu esforço em tentar assimilar a cultura local. E assim eu fui até o Fim do Mundo, num pacote de viagem que me mandou pra Ushuaia e depois para El Calafate (acho muito melhor fazer neste sentido), onde eu me conheci melhor, entendi melhor o mundo e voltei apaixonado por paisagens brutalmente dramáticas e bucólicas – como dizia a apresentação da agência.
Desta vez foi diferente, pois fui em família. Sete pessoas no total – eu, meus pais, meus tios do Rio e meus tios de Vitória. Saímos do Rio na noite do dia 25 de dezembro, passamos dois dias em Buenos Aires e depois fomos para El Calafate. O que eu tenho a dizer sobre viagem em grupo grande: conheça bem seus companheiros, se vocês têm o mesmo estilo, humor, gostos, interesses… Pense duas vezes antes de viajar junto. Sério, é o melhor conselho que posso dar.
O estresse começou logo que chegamos em Buenos Aires, tarde da noite e por motivo fútil. Fomos todos dormir pra acordar como se nada tivesse acontecido. Mas estava só começando!
Na primeira manhã, fomos trocar dinheiro no Centro. Como estávamos na Recoleta/Barrio Norte, deu pra ir a pé tranquilamente. Atravessamos a 9 de Julio, passamos pela Plaza San Martin, vimos os lindos palacetes e prédios ao redor (incluindo o Ed. Kavanagh e a Basílica de Santíssimo Sacramento) e depois entramos na Florida. Desde que o governo argentino tornou quase impossível o acesso à moedas estrangeiras, o câmbio paralelo se tornou uma realidade em Buenos Aires. Não é preciso ter medo, pois tudo acontece normalmente e a polícia faz vista grossa.
Da casa de câmbio passamos nas Galerías Pacífico, só para ver os afrescos. Voltamos para o hotel pelo mesmo caminho e chovia um pouco. Graças ao bom Deus, não fez o calor senegalês do verão 2014. Foi neste momento que a mesma pessoa que fez um barraco ainda no aeroporto começou a reclamar que não queria se molhar. Nós não demos a mínima.
Refrescados, fomos de táxi para o El Burladero, a menos de 2km do hotel. Pedimos o menu do dia, um cardápio executivo com duas opções para entrada, principal e sobremesa. O que provei e que estava delicioso: croquete, lula na tinta, rabo de boi no vinho e a paella. O almoço durou 2 horas. Dessas duas horas, mais de uma hora passamos em silêncio, olhando pro teto, pras paredes, pro prato, talheres, pras outras mesas… não havia mais assunto, dependemos da pessoa, que não comia, apenas bebia. O almoço terminou às 16h, o que impossibilitou a ida a El Ateneo. Então andamos até a Plaza Francia apenas para dar uma volta casual e depois voltar para o hotel descansar e se arrumar para o tango.
Zanzamos, entramos no Cemitério, na Iglesia de N. S. del Pilar, mas por cansaço ou necessidade de ir ao banheiro, todos foram voltando pro hotel mais cedo. Restamos minha mãe e eu, que fizemos exatamente o que gostamos de fazer: andar tranquilamente, tomar um sorvete no Volta, passar no supermercado, ver a moda e entrar nas quitandas da Avenida Quintana. No verão, vale comprar cerejas e morangos!
Meu descanso virou uma sessão do descarrego via WhatsApp com minha irmã. Contei tudo o que estava acontecendo e melando a viagem. E assim eu tomei a decisão mais esperta: simplesmente bloquei a pessoa, pois ela não tinha o direito de estragar uma viagem que outras estavam sonhando há meses e que trabalharam tanto pra que acontecesse. Planejei a viagem para que todos curtissem, escolhendo programas e restaurantes que atendessem os interesses e gostos em comum, mas se nada era bom ou satisfazia a pessoa, pra que se importar?
Tomei um banho, fiquei todo garboso e fomos pro tango. Era a terceira vez que ia num show de tango, a primeira no Piazzolla Tango. Estava bem curioso pra conhecer o teatro, que fica dentro da galeria mais bonita da cidade, a Güemes, na Florida, quase esquina com a Diagonal Norte (Av. Roque Sáenz Peña). O teatro era bem pequeno, então não tinha lugar ruim. Quem estava em casal ou dupla, ficava nos pequenos camarotes. O jantar não foi bom, mas o show foi fantástico! Na medida entre o intimista e o teatral. Gostei mais que do Esquina Carlos Gardel (o show). A única coisa que eu não gostei (e nos dois shows) foi a apresentação solo dos cantores – ô homens chatos! O caminho de volta foi lindo, pois passamos pela Casa Rosada, 9 de Julio e do Teatro Colón. Buenos Aire é linda à noite.
No dia seguinte fizemos o city tour e quem foi nos buscar foi o Pedro, um uruguaio legal! Tinha cogitado fazer o city tour no ônibus turístico, mas fiquei com medo do calor e de não encontrar lugar pra todo mundo em algumas paradas. Fizemos a via crúcis e fomos parando nos lugares que a gente tinha interesse. Não sei por quê, mas o povo criou uma química com o Obelisco, coisa que eu nunca dei bola. A primeira parada foi na Plaza de Mayo, onde a Casa Rosada não fez sucesso. Mas a Catedral foi um dos pontos altos pro povo de Vitória, muito católicos. Compraram muitas lembrancinhas do Papa Francisco. Fomos pra Boca e, por vontade de alguém querer ir ao banheiro, acabamos entrando no museu do Boca Juniors.
Sendo eu uma pessoa sem o menor interesse em futebol, que dorme na Copa (juro que me bate um sono invencível) e que até hoje não sabe o que é impedimento, entrei com a esperança de ser convertido e entender essa emoção toda. O museu é bem feito e deve ser um prato cheio pra quem ama futebol, mas eu saí da mesma forma que entrei. O Caminito, que detesto desde sempre, também não foi um sucesso.
Passamos por San Telmo, Puerto Madero, Centro, Recoleta (adoro andar de carro ou ônibus na Córdoba e depois entrar na Callao, os prédios são lindos) e descemos na Flor Metálica (Floralis Genérica). Estava bem quente, já era quase meio-dia. Passamos em frente ao MALBA e fomos direto ao Rosedal, que não estava em seu esplendor – uma pena. Abaixo tem uma foto de quando fui no Carnaval de 2014. O plano do Pedro era ir até o hipódromo, mas como tudo mundo já estava com fome, pedi para eles nos deixar na Fitz Roy com Cabrera, em Palermo Hollywood. Fomos almoçar no peruano Olaya.
Todos (t-o-d-o-s) concordaram que os ceviches estavam sensacionais de maravilhosos. No início fizeram cara de “ai, peruano?’, mas ninguém resistiu. Foi neste restaurante que o bloqueio ficou bem evidente. Eu tolero muita coisa, mas não suporto grosseria e falta de educação, e quando ouvi meu tio chamando o garçom de forma grosseira, não aguentei e disse, de forma autoritário, ‘não, deixa que eu chamo o garçom e peço a cerveja”. Quem maltrata garçom ou qualquer outra pessoa por se achar superior, morre na hora pra mim.
Para evitar a fadiga, voltamos pro hotel. Quer dizer, voltamos para a rua do hotel e alguns foram pros quartos. Meus tios do Rio e eu fomos tomar sorvete no Arkakao. Foi a segunda vez que fui lá. O sorvete é excelente, um dos melhores da cidade, bem italiano, bem cremoso, mas o atendimento não tinha sido bom quando fui pela primeira vez. Mas desta vez foi uma simpatia só. Felicidade gelada. Voltamos pro hotel e tive mais uma sessão do descarrego. Me arrumei novamente para o melhor jantar da viagem.
Nos encontramos no lobby às 19:30. Conseguimos táxis rapidamente e rumamos pra Puerto Madero, onde foi nosso jantar degustação no Chila. Engraçado que ninguém sabe qual é o dique qual. Então não adianta dizer ‘dique 3″, você tem que falar algo como “perto do McDonald’s”. Chegamos um pouco cedo. Eu, meus pais e meus tios daqui. O sol estava caindo, a brisa estava gostosa e Puerto Madero estava lindo!
A hostess era linda e andava com desenvoltura num salto à la Lady Gaga. Nossa mesa era de frente para o janelão com vista pro rio. Estávamos muito felizes e até aliviados de estarmos só nós cinco, sem estresse nem chatices. O jantar foi absolutamente perfeito, brindamos o aniversário da minha mãe, que foi na semana anterior a viagem. O lugar era elegante e acolhedor, o serviço foi perfeito, além de muito simpático, e a comida foi surpreendente – os melhores ingredientes que a Argentina pode oferecer. Enfim, dinheiro muito bem gasto. Escolhemos o menu de três passos – que na verdade incluiu um gaspacho de beterraba de cortesia, um pão (o de malbec é de lamber os dedos) e um sorvete de mate para limpar o paladar antes da sobremesa. De entrada, eu escolhi as ostras no caldo de tomate, o resto da mesa escolheu as vieiras – ambos estavam incríveis, mas as vieiras ganharam a disputa. No prato principal, só meu tio escolheu a carne maturada por 45 dias. Nós escolhemos a merluza negra. E de sobremesa, cada um escolheu uma coisa. Meu voto foi para a escolha da minha mãe, morangos com chocolate branco (eu acho).
Foi nosso (meu e da minha mãe) terceiro jantar degustação em Buenos Aires. Os outros dois foram no Aramburu e i Latina, que também são excelentes em suas propostas e oferecem um jantar de mais passos (o Chila tem outro menu de 7 passos). No Chila, achamos que tudo estava na medida certa, sem tirar nem pôr. Saímos satisfeitos, felizes e muito bem-vindos. Não é um jantar pra toda semana nem mês, mas de vez em quando, por que não? E ainda ganhamos petit fours de brinde!
EL CALAFATE E QUANDO AS PESSOAS SE REVELAM
O telefone tocou às 2:30h. Quase morri. Não sabia quem eu era, onde estava nem se estava vivo. “Alô, Christina?” Do outro lado da linha, o homem da recepção me disse que o traslado já tinha chegado. “Como assim? Já?”. Pois é, o traslado estava realmente marcado para aquele horário, mas tinha pedido para nos buscar uma hora mais tarde, pois o voo para El Calafate era às 5:30h. Houve uma falha de comunicação, cabeças rolaram depois – mentira! Logicamente demoramos pra descer, mas os motoristas nem reclamaram. Um deles era a cara do Leonardo Sbaraglia jovem.
Foi bom termos chegado cedo ao Aeroparque, pois a fila pro check-in da LAN estava gigantesca. Teve até barraco! Como o tempo estava correndo e já estávamos esperando há 40 minutos, o moço permitiu que todos que iriam para El Calafate/Ushuaiam furassem a fila. E assim fomos. O kit Havana oferecido no voo era bem ruim, só a caixinha, estampada com paisagens argentinas, era bonita. O voo foi cheio – muitos argentinos, europeus, coreanos e alguns poucos brasileiros.
Da janela, aos poucos, fomos vendo rios de um azul turquesa leitoso. Já estávamos chegando. O aeroporto de El Calafate fica no meio do nada, perto do Lago Argentino. Lembro que quando fui pela primeira vez, vi uma bola de feno passando por mim e pensei que estava no lugar errado. “Geleiria aqui?” As malas demoraram pra sair, o que permitiu uma ida sem pressa ao banheiro. Ao lavar as mãos, a água gelada fez cair a ficha. O cadeado da minha mala veio arrebentado. Felizmente não roubaram nada – nem havia o que roubar. Para sair, todos precisaram passar as malas no raio-x, o que formou uma longa fila.
Já tinha reservado o traslado pro hotel pela Ves Patagonia (há táxis também). Esperamos outros passageiros enquanto tentávamos entender onde estávamos. O tempo não estava nada bom, o frio estava delicioso, mas os mosquitinhos queriam o calor da van e ficaram todos colados na janela – desapareceram depois de um tempo. Depois de 20 minutos de estrada, chegamos no portal da cidade. Fomos deixando algumas pessoas em diferentes pontos, até que chegou nossa vez de descer. O ACA (hotel do Automóvel Clube) era exatamente como nas fotos. Como ainda não era horário do check-in, havia apenas um quarto disponível, que foi o dos tios de Vitória. Deixamos nossas malas lá e eu fui pagar o restante do Mini Trekking (tinha feito a reserva com uma agência, como eles não funcionaram naquele dia, a dona foi até o hotel receber o restante do pagamento e entregar os vouchers). Quando voltei pro quarto, veio a notícia mais chocante da viagem.
“Você pode mostrar os passeios pra gente, porque meu marido disseque não quer fazer tudo.” Eu não lembro qual foi a minha reação, não sei se cheguei a dizer “então pra que veio?”, mas todo mundo ficou chocado. Eu tentei entender melhor. “Mas a senhora vai, certo?” “Não, meu marido pediu pra ficar com ele.” Eu fiquei mais chocado ainda. Meu pai deu um “Nossa Senhora” e foi pro lobby pra ficar em silêncio. Me deu muita raiva, pelo egoísmo – era a primeira vez que minha tia saía do país – e também porque eu tinha passado, pessoalmente, todas as informações da viagem com meses de antecedência. Peguei o iPad e mostrei tudo com má vontade. O clima estava tão azedo que ninguém dizia nada com nada e o quarto foi se esvaziando. Eu também saí, bem triste e desapontado.
Nós saímos para acertar outras excursões – o que só foi feito mais tarde naquele dia, pois as agências estavam fechadas e já queríamos almoçar. No fim das contas, eles ficaram três dias no hotel.
Com um climão, almoçamos no Isabel Cocina al Disco, que funciona no hostel Calafate. Cocina al disco é um prato típico do interior da Argentina. É bom, mas nada extraordinário. Há vários sabores, como chorizzo, frutos do mar… tudo é cozido no vinho ou na cerveja dentro de uma caçarola. Dá pra entender melhor vendo as fotos no site. Pedimos três sabores: chorizo, mariscos e vegetariano. O de chorizo foi o que mais gostei. Voltamos ao hotel e nossos quartos já estavam prontos.
Às 14:30h pegamos o 4×4 adaptado para o Balcón del Calafate, passeio que tínhamos acertado antes do almoço. Não é um passeio obrigatório, mas vale a pena para não ficar uma tarde ou manhã sem fazer nada. O passeio acertado era ir até a base do Cerro Huyliche, a poucos quilômetros do Centro, para subi-lo de teleférico, e de lá, fazer o passeio 4×4. Mas como o tempo estava muito ruim, subimos de 4×4 mesmo. O chamariz deste passeio é a vista panorâmica da cidade, do Lago Argentino e até do Cerro Fitz Roy (El Chaltén) e de Torres del Paine – quando o tempo ajuda muito. Como a névoa não ia embora, o vento e a chuva também estavam esperando o bolo de fim de festa, ficamos apenas com paisagens misteriosas, bem diferentes da aridez do nível da cidade. O passeio encerrou num café/refúgio do Calafate Mountain Park, que administra as visitas e os outros atrativos, como circuitos de bicicleta, quadriciclos, e esqui e moto de neve no inverno. Entre um ponto e outro, caímos no sono. Mais porque tínhamos acordado muito cedo que pelo tédio. Vá se o tempo estiver bom, do contrário, procure outro programa.
Mais tarde, depois de um breve descanso, fomos acertar os outros passeios. Descobrimos que o full day Torres de Paine estava esgotado até meados de janeiro. Fuen fuen fuen! Acertamos então El Chaltén full day com Lago del Desierto e Ríos de Hielo, deixando um dia vago com esperança de alguma desistência pra Torres del Paine. Depois disso jantamos uma pizza bem mais ou menos no La Lechuza. O clima estava um pouquinho melhor.
PERITO MORENO – HOLIDAY ON ICE
Para sanar de vez todas as dúvidas de quem quer conhecer a geleira Perito Moreno:
O Perito fica dentro do Parque Nacional Los Glaciares. Do Centro de El Calafate até ele são 80km de estrada margeando o Lago Argentino e pradarias. Na entrada do parque, um funcionário entra no ônibus para cobrar a entrada. Cidadãos do Mercosul têm desconto – leve passaporte e dinheiro, não aceitam cartão. Até o Perito tem chão, se quiser ir ao banheiro, há uma parada logo após a entrada. Após isso não há mistério, é só seguir a estrada. A primeira parada é Puerto Bajo las Sombras, de onde saem os catamarãs para o Safári Náutico (passeio em frente ao Perito) e para o trekkings no gelo. Ambos os passeios são operados exclusivamente pela Hielo y Aventura, você pode comprar diretamente com esta agência ou outra de sua preferência.
As famosas passarelas ficam a menos de 10 minutos de Puerto de las Sombras. Começa no alto, onde há uma boa lanchonete e banheiros. São 4km de passarelas (se não me engano) com 7 mirantes. A visão é espetacular e emocionante!
Você pode chegar até lá de transporte público e carro particular. Se for por agência, o transporte está incluído. Se for fazer um trekking sobre o gelo (Mini ou Big Ice), a navegação e as passarelas estão incluídas, mas com uma hora de tempo de permanência. Se reservar o trekking com a Hielo y Aventura, é necessário incluir o traslado também.
Mini Trekking: 10-65 anos, sem problemas cardíacos, motores, de locomoção nem sobrepeso. Proibido para grávidas. Exigência física moderada. Saídas diárias entre agosto e meados de maio. Necessário levar almoço, água, óculos escuros, protetor solar e luvas. 1:40h sobre o gelo + trilha até o Perito.
Big Ice: 18-50 anos. Exigência física alta. 3:30h sobre o gelo. Saídas diárias entre setembro e final de abril.
O ônibus da Hielo y Aventura passou no hotel às 9h. Pegamos mais algumas pessoas e depois paramos no meio do nada, na Av. del Libertador. Veio outro ônibus e metade foi transferida para este. Veio mais um ônibus e foi a nossa vez de trocar de veículo. Não entendi muito bem o troca-troca, mas o que posso dizer é que o serviço prestado pela empresa é muito bem organizado.
O ônibus já estava cheio, muita gente dopada de sono – e nessas horas ninguém se importa em pagar mico. O tempo continuava feio, muitas nuvens, chuvinha chata, janela embaçada. Se você quiser ter a primeira visão do Perito Moreno, sente-se do lado esquerdo. Ao entrarmos no parque, um rapaz subiu para cobrar o valor dos ingressos. Sendo moradores de um país do Mercosul (mesmo tendo Registro Nacional de Estrangeiro), pagamos com desconto. O casal de franceses do lado ficou meio magoado. Paramos pouco mais a frente para uma rápida ida ao banheiro.
Até então não sabíamos como seria a ordem da excursão, se faríamos o Mini Trekking antes e depois ir para as passarelas ou o contrário. Como paramos em Puerto Bajo las Sombras, ficou claro o que faríamos primeiro. Que emoção! Aquela água leitosa, o vento gelado… Exatamente como na primeira vez. E quando embarcamos e seguimos até a parede do Perito Moreno, veio aquele impacto que deixa qualquer um desarmado. Você percebe como você é insignificante diante da grandiosidade daquilo. Lágrimas caíram mas foram secas quase que instantaneamente pelo vento. Aliás, o vento cortante parecia não existir com tamanho deslumbramento.
O navegação durou quase meia-hora, mas passou voando. Logo desembarcamos para começar o Mini Trekking. Quer dizer, não começou tão rápido assim. O guia deu o passo a passo do que íamos fazer. Primeiro, fomos até o abrigo para comer o almoço que tínhamos levado. No horário certo, começaríamos o trekking, nesse meio tempo, estávamos livres pra tirar fotos. O abrigo não vende nada, há apenas banheiros e luvas para emprestar. Tudo é bem organizado, mas como num momento dois grupos acabam se encontrado (o grupo que volta do trekking), é preciso ficar atento.
De barriga cheia (mais ou menos, pois a ansiedade era maior que a fome), bexiga vazia e devidamente trajados, seguimos por uma trilha no bosque até uma praia – juro que me deu um calor danado neste trecho. Ali fomos divididos em 3 grupos. O meu grupo era o 1, em espanhol, mas como aquela pessoa difícil desapareceu na hora de sair, acabamos sendo encaixados no grupo 2, em inglês. Mas acabou que todos do grupo eram brasileiros e mexicanos, então foi em espanhol mesmo. O guia foi o Frederico, muito atencioso e simpático. Saímos um pouco depois do grupo 1, que estava num outro abrigo calçando os grampos. Como disse mais acima, tudo é muito bem organizado.
Depois de calçar os grampos (crampons, como chamam), fomos até a divisa entre pedra e gelo. O coraçãozinho ficou todo animado e feliz. Frederico ensinou a andar, a subir, descer e como se comportar. Resumidamente: andar com os pés afastados, passos firmes, descer de lado, seguir a trilha e fila indiana. Paradas para descanso e fotos são feitas o tempo todo.
Mamãe estava tão maravilhada que assumiu a pole position do grupo. Eu achei que tinha nascido pra andar no gelo. De fato, foi tão legal que não senti frio, calor, dor (nenhum de nós é um atleta, que fique claro, nem de fim de semana)… Só queria andar, correr, procurar o Jon Snow, cantar Let it Go… Amei! Mas para aqueles que acharem difícil ou sem condições, dá pra voltar pro abrigo.
Um outro guia, que não lembrou o nome, apareceu para auxiliar o Frederico e assegurar que ninguém cairia numa fenda ou sumidouro. Era um outro mundo. E quando eu tirava os olhos escuros, quase morria cego, mas as cores reais eram ainda mais lindas! O engraçado é que, por causa do excesso de luz que rebatia no gelo, não dava pra ver nada no tela da câmera nem do celular. Tirei fotos às cegas.
O Perito Moreno não é a maior geleira do parque nem a mais alta, mas, na minha modesta opinião, é a mais linda. Os ventos gelados que vêm do Pacífico batem no alto da Cordilheira dos Andes. A neve vai se compactado e, com o peso, vai descendo em forma de gelo. Do alto da montanha até a parede frontal do Perito, é um movimento de 400-450 anos. E esse gelo se joga, sem medo nenhum, na água, pra um dia, quem sabe, refazer o ciclo. O mundo é puro maravilhamento! É de uma enorme arrogância quando falamos de Natureza sem nos incluirmos nela, como se fôssemos algo maior.
Até pouco tempo atrás, o Glaciar Upsala era o maior do parque. Com o aquecimento global, o Viedma assumiu a colocação. No lado chileno há glaciares que recuaram 40 metros em 20 anos. O Perito e o Spegazzini são os únicos do continente que não apresentam retrocesso. A conclusão é que o modo como vivemos e vemos o mundo precisa mudar urgentemente.
No fim do trekking, tomamos água e uísque com gelo do Perito. A água é puríssima e deliciosa – dá pra sentir a diferença. Seria ótimo tomar todo dia, mas ela é paupérrima em minerais. Frederico se despediu da gente na divisa entre gelo e pedra. Seguimos por conta própria pro abrigo para retirar os grampos e depois seguimos a longa (realmente pareceu longa) trilha de volta ao abrigo onde almoçamos. Com o Perito ao fundo, toda vez que ouvíamos um barulhão, parávamos para tentar ver alguma queda.
Quando fui pela primeira vez, vi muitos desprendimento, mas desta última vez não foram tantos. Primeiro ouve-se um som brutal, como de um trovão ao seu lado, então um pedaço enorme de gelo cai sem pudor na água. A gente comemora que nem ano novo em Copacabana. Assustador e lindo!
Tivemos tempo pra descansar, tirar mais fotos, ir ao banheiro e tudo mais. O catamarã deixou mais um grupo e nos levou de volta para Puerto Bajo las Sombras, onde um ônibus nos esperava para nos levar às passarelas. No ônibus, um outro guia disse que teríamos uma hora – parece muito, mas passa voando – e nos disse quais eram os melhores pontos de observação.
Depois de andar sobre o gelo, parecia até sem graça vê-lo de longe, mas a visão panorâmica de toda a sua imensidão ainda impressionou, além da combinação com as montanhas. Descemos bastante e concluímos que nenhuma foto, por melhor que fosse, capturaria a real beleza e grandiosidade do que estávamos vendo e sentindo. Voltamos para a lanchonete, foi o tempo de ir ao banheiro (muito limpo, por sinal) e tomar alguma coisa. A volta pra El Calafate foi um cochilo só. Estávamos exaustos.
Calafate, ainda verde, parente do mirtilo e que dá nome a cidade.
À noite descobrimos que é verdade a história de que é preciso fazer reserva com antecedência para comer nos melhores restaurantes. Comemos num restaurante perto do hotel, La Cocina. Comida simples e boa.
BOSQUE PETRIFICADO LA LEONA – TROPEÇANDO EM FÓSSEIS
Às 9h, uma van foi nos buscar com o guia Eduardo, essencial neste passeio. Pegamos mais algumas pessoas e assim tivemos a chance de ver a Laguna Nimez pela primeira vez. Ela fica a pouco mais de 1km do Centro. Pegamos o caminho contrário ao que vai para o Parque Nacional de los Glaciares, saindo da cidade, a Ruta Provincial 11. Fomos até o entroncamento com a mítica Ruta 40, que corta praticamente todo o país, e a seguimos pro norte. No caminho, guanacos andavam na beira da estrada. Depois de uma hora, chegamos no hotel La Leona.
O La Leona é famoso porque foi onde Butch Cassidy e Sundance Kid passaram um tempo depois de roubarem um banco em Ríos Gallegos. Após fugirem dos EUA, eles foram a Buenos Aires e compraram uma fazenda em Chubut (norte da Patagônia). A fazenda não foi pra frente e eles voltaram ao mundo do crime. As paredes do La Leona, que é mais um café que hotel, estão decoradas com retratos falados, jornais da época e fotos. Se você vai pro Bosque Petrificado ou pra El Chaltén, este é a única parada pra ir ao banheiro e tomar alguma coisa.
Favor desconsiderar que as fotos estão tortas.
Outras pessoas se juntaram ao grupo no La Leona. A partir dali entramos em propriedade privada. O caminho é mega esburacado, de pipocar! E de repente a paisagem mudou. Como disseram, parecia a Capadócia. Cânions que parecem mil folhas de pedra.
Anos atrás, a família proprietária das terras quis vendê-las para o governo, para que ele fizesse um centro de estudos paleontológicos ou coisa assim. O governo não se mostrou interessado, então eles encontraram no turismo uma forma de lucrar. Claro que tudo de valor já foi encaminhado para museus e instituições de pesquisa. Vale dizer que a Patagônia é uma área de grande interesse para a paleontologia, foi nela que encontraram os fósseis do Argentinossauro, um dos maiores dinossauros já encontrados. Eduardo, o guia, foi um dos responsáveis de viabilizar as visitas turísticas. Embora fosse gordinho, o pique dele era invejável. E ao descobrir que éramos do Rio, disse o que todo argentino diz: “O Rio é lindo, mas prefiro Búzios. Vou a Búzios todos os anos”.
Eu achava que seria um passeio molinho, de andar numa trilha delineada, plana, mas foi russo! O passeio foi um sobe e desce sem fim. E quando eu digo sobe e desce, é praticamente 90º. Ok, 140º. Mas também vimos paisagens de outro planeta, além de fósseis de dinossauros e troncos petrificados. A subida final foi tipo No Limite.
Um dos muitos troncos petrificados.
Explicando o lugar: 70 milhões de anos atrás, quando a Cordilheira dos Andes nem existia, a Patagônia toda era uma floresta com rios tão grandes quanto o Amazonas. As intensas chuvas que o oceano mandava aumentavam ainda mais os níveis dos rios, que acabavam arrancando as árvores. Essas árvores foram cobertas por argila e outros sedimentos, e mais tarde foram encapsuladas no tempo por lava. Milhões de anos se passaram, a região virou um imenso campo de gelo. Com o atrito do movimento do gelo, o basalto foi limpo e a água ajudou a revelar resíduos de uma Terra de muitos milhões de anos atrás.
O almoço estava incluído, e estava bem bom! Comemos ali, entre fósseis e formações surrealistas, só nós cinco, dando graças a Deus que os outros não foram – as reclamações seriam insuportáveis. Eduardo continuou a excursão mostrando seus pontos preferidos. Voltamos no fim da tarde. Meio poeirentos e com as pernas doendo.
À noite jantamos cedo num restaurante bem rústico e onde comemos um excelente cordeiro no vinho, o La Zaina. A reserva tinha sido feita na noite anterior. A garçonete principal não era nenhuma simpatia, mas a outra foi só sorrisos. Comemos muito bem! Realmente adoramos. A sobremesa, como em todas as noites, foi em alguma sorveteria da cidade.
Quem opera esta excursão é a Morresi Viajes.
EL CHALTÉN – A MONTANHA QUE FUMA
Quando voltamos do Bosque Petrificado, recebi uma mensagem do senhor da agência onde compramos as excursões – Calafate Extremo. Achei que ele tinha conseguido lugar pra gente ir pra Torres del Paine, mas não era nada disso. Houve um problema de logística com o trasporte para El Chaltén, originalmente programado para o dia 1º de janeiro. Com isso, ele teria que mudar a data com o passeio que seria realizado no dia 31, o Ríos de Hielo. E assim foi feito, e ainda ganhamos uma compensação em dinheiro.
O micro ônibus pra El Chaltén passou bem cedo, o motorista se chamava Eduardo e tinha um Mix CD intrigante! O ônibus foi cheio, incluindo um casal que foi com a gente pro Bosque. Ninguém fez o passeio, só usaram o transporte até a cidade. Estávamos meio desanimados porque o tempo estava muito ruim. Queria tanto ter tido aquela vista do Fitz Roy da estrada… Chegamos em El Chaltén e fomos encaminhados para uma agência local (Zona Austral), que pediu para que aguardássemos um pouco. Muito simpática, a funcionária disse que poderíamos usar o banheiro do café (La Morena) ao lado e também explorar a cidade de apenas 15 ruas. Não dava pra ver muita coisa, chovia e as montanhas estavam encobertas sem modéstia. Aliás, Chaltén significa montanha que fuma. Foi o momento mais frio de toda a viagem! Acabamos entrando numa padaria (La Rika) onde compramos as melhores empanadas da vida (dizem que só as empanadas e medialunas são boas lá, não sei, mas tinham acabado de sair do forno)! Vontade de ir lá só pra comer empanada.
A van para o Lago del Desierto foi lotada. Além de nós cinco, havia uma italiana e uma família de argentinos. O motorista era o Pedro. A viagem, bordeando o Río de las Vueltas, deve ser linda num dia de sol, tanto que a gravação-guia fazia várias menções sobre mirantes. Tanto Pedro quanto a moça da agência disseram que o tempo ia melhorar. Acreditei como acredito quando o rótulo do shampoo diz que meu cabelo vai ficar incrível na primeira lavada.
O Lago del Desierto foi motivo de briga territorial com o Chile. Para ter soberania sobre a região, a Argentina fundou El Chaltén (a cidade mais jovem do país, comemora 30 anos este ano) e construiu a estrada até o lago. Fizemos uma parada para ver um monumento que conta a história e homenageia os bravos argentinos que fizeram isso acontecer. Outra parada foi para ver uma pequena cachoeira (sem ser a Chorillo del Salto).
Enfim, depois de 250km percorridos, chegamos ao Lago del Desierto. O tempo estava melhorando. Oh happy day! Lá, quem quisesse poderia fazer trilhas, mas nós tínhamos o passeio de barco incluído. A trilha mais famosa é a que leva ao lago e glaciar Huemul. Ao lado do lago (o Desierto) há uma área de camping e banheiro (pago). Comemos no barco vendo as nuvens indo embora aos pouco. Quando a navegação começou, entendemos porque os dois países brigaram tanto por ele. Que lugar incrível!
Seguindo até o extremo norte do lago, chega-se ao Chile. No caminho de volta, mal deu pra piscar. Realmente a estrada era deslumbrante! O nosso tempo era corrido porque tínhamos que chegar em El Chaltén até às 18h, e como era 31 de dezembro, a agência ia fechar mais cedo. Pedimo e Pedro parou pra gente ver o Fitz Roy. Não sei explicar por quê, mas eu não conseguia parar de olhar pra ele. Os sei lá tantos quilômetros percorridos valeram muito a pena.
E o Fitz Roy:
Ainda voltando, minha mãe disse que viu um puma. Quando chegamos a El Chaltén, entendemos por que todo mundo ama a cidade. Não tem nada, mas a energia é super alto astral! Gente que só quer apreciar aquele lugar. Queria ter passado, pelo menos, mais um dia ali.
A agência já estava fechando, o café já tinha. Fomos no banheiro da rodoviária e depois entramos no ônibus, que pegou um monte de gente pra ir pra El Calafate. Com a cidade se distanciando, foi difícil não desgrudar os olhos daquelas montanhas. Desculpe o excesso de fotos de montanhas. Amei El Chaltén! Amamos. As fotos a seguir são das paisagens que não vimos no caminho de ida.
Chegamos em El Calafate um pouco depois das oito. Como Eduardo já era camarada nosso, nos deixou primeiro. Tomamos banho e fomos pra Ceia de Ano Novo, no hotel mesmo. Tinha música ao vivo e foi bem agradável. “Vocês são do Rio? Vou cantar uma bossa nova: ‘Quero a vida sempre assim, com você perto de mim…'” Só a comida que não estava boa. Mas enfim, o que é um jantar ruim num dia em que se foi a El Chaltén e ao Lago del Desierto? Excelente último dia do ano.
Dei um rolê pela cidade. Não havia movimento, nem dos cachorros. Só frio mesmo.
A música do Eduardo que não saiu da minha cabeça até hoje (jurava que era dos anos 80 por causa do Fantasma da Ópera).
OS RIOS DE GELO – 50 TONS DE AZUL
Saímos cedo até Puerto (ou Punta) Bandera. É o mesmo caminho para o Perito Moreno, mas ao chegar numa bifurcação, vira-se à direita até o lago, bem mais perto. Estava um frio bem bom. A dica é pagar logo a entrada do parque (na bilheteria) e embarcar pra pegar um lugar. A navegação é operada pela Solo Patagonia e o serviço também é bem organizado.
Confesso que foi o passeio mais chato que fizemos (todos juntos desta vez). É lindo ver os icebergs, o glaciares Upsala (bem de longe), Seco, Spegazzini, mas chega uma hora que você fica cansado e dorme, principalmente no final. Mas não deixa de ser impressionante ver aquelas muralhas de gelo.
A ideia original era ir pra Estancia Cristina (opção Discovery), mas como também não havia vagas, o Ríos de Hielo acabou sendo a opção.
Voltamos cedo pro hotel, quase cinco da tarde. Aproveitamos pra zanzar pelo Centro e fazer algumas compras, já que era nosso penúltimo dia na cidade. Como era 1º de janeiro, as lojas só abriram depois das 18h, algumas não abriram.
Com o último dia ainda em aberto e sem esperança de ir a Torres del Paine, voltamos à agência pra ver o que poderíamos fazer. Ficar no hotel não era opção! O Alvaro, dono da agência, nos sugeriu a Estancia Nibepo Aike. Achamos que seria legal, mas sem grandes expectativas.
À noite jantamos no concorridíssimo La Tablita, tido como o melhor cordeiro das redondezas. Não achamos não. O restaurante era muito bonito, o atendimento foi ótimo e fiquei conhecido como Alexis, mas realmente não achamos essa Coca toda.
NIBEPO AIKE – E NA FAZENDA TINHA OVELHAS, CAVALOS, CACHORROS E GATO
Às 9h, uma van foi nos buscar. Pegamos ainda um casal da África do Sul com filho pequeno e um casal argentino. Pegamos a antiga estrada em direção ao Parque. E, sério, apesar de ser de brita, a vista era mil vezes mais bonita que a outra. Vimos muitas lebres e gaviões a perder de vista.
A fazenda parecia tela de descanso do Windows. Fomos recepcionados por uma funcionária da fazenda, que nos levou para uma casa onde havia uma mesa de doces e café. Mas antes, fomos acolhidos por filhotes de cachorros e um gato que parecia um puma. Só por eles eu poderia ter passado o dia inteiro lá. Só faltava um unicórnio!
The hills are alive, minha gente!
Mas que lugar incrível de lindo! Ela nos contou a história da fazenda e depois fomos até o curral, onde peões fizeram demonstração de ordenha e pastoreio de ovelhas. Quem quis, pôde cavalgar um pouco (não incluído). Meus pais, eu e um homem fomos. Foi muito tranquilo e gostoso, além de poder falar que galopamos pela Patagônia. Quem não fez a cavalgada caminhou até a beira do Lago Roca. Meus tios preferiram voltar pra sede e descansar.
Ao voltarmos, fomos pra casa de tosa ver uma demonstração. Tivemos uma aula! Quando sentada, a ovelha não consegue se levantar. Não é qualquer um que tem a habilidade de tosar, muitas vezes este profissional vai se fazenda em fazenda pra isso. Como era uma demonstração, ele fez com a tesoura. Anualmente faz-se duas tosas. Uma, apenas nos olhos e na genitália, para que não ocorra infecções. A outra é antes do verão, essa é a de corpo todo.
Atualmente, a lã é exportada pra Ásia, onde o que mais querem é a lanolina, uma gordura/cera natural presente na lã bruta, bastante usada na indústria cosmética. Na época em que a fazenda era uma grande produtora de lã, ela era levada de charrete uma vez por ano até Río Gallegos (350 km), de onde seguia pra Europa. Cada trecho da viagem levava 45 dias. A fazenda se chamava La Jerónima, fundada por um imigrante croata. Após sua morte, ela mudou o nome para Nibepo, as iniciais dos apelidos das filhas: Níni, Bebe e Porota. Até hoje a fazenda é administrada pela família.
Depois da demonstração de esquila, fomos almoçar na casa principal. O almoço era super simples, bem fazenda, e estava realmente delicioso! Fomos embora depois disso. Realmente adorei este dia! Não esperava tanto.
Como voltamos cedo pra cidade, aproveitamos para ir até o Glaciarium, um museu que fica meio afastado e conta a formação das geleiras, detalhes, a importância delas e tudo mais. O museu conta com traslado gratuito, que sai da Secretaria de Turismo (ao lado do nosso hotel). No fim de tarde, a procura aumenta, então é preciso chegar com antecedência e fazer fila. No subsolo do Glaciarium fica o Bar de Gelo ou Glaciobar. Não fomos. Em El Calafate, como lanche da tarde, procuramos uma empanada. Entramos no Green Market Patagonia (fica quase em frente ao cassino, eu acho), que se mostrou um ótimo lugar pra comprar vianda (o lanche/almoço pra levar nas excursões). Se tivéssemos conhecido antes…
Depois que voltamos, fizemos as últimas compras, tomamos os últimos sorvetes e arrumamos as malas. O jantar foi no Don Pichón, um restaurante que não fica longe, mas como fica num morro, tem serviço de traslado. Também não esperava muita coisa do Don Pichón, mas a comida estava muito boa e a vista para a cidade e o lago era linda! Ah, o serviço demorou mais que nos outros restaurantes, mas não comprometeu. Gostei mesmo. Só não deu pra ir no Mi Rancho. Este, Don Pichón e La Tablita são os restaurantes mais badalados, é necessário fazer reserva com um dia de antecedência.
O ÚLTIMO DIA
A van da Ves Patagonia foi nos buscar às 8:30h. Saímos com um aperto no coração. Quando estava na estância, comi um calafate pra garantir que voltaria. Espero voltar novamente. No aeroporto deu tudo certo, mas chegando em Buenos Aires, nosso transfer não estava lá e nem consegui ligar pra saber o que estava acontecendo. Acabamos pegando um remis e fomos pro hotel. O chato é que perdemos uma hora.
O que tinha acontecido estava evidente. Naquele dia, 03 de janeiro, era a largada do Paris – Dakar e as ruas estavam interditadas. Quem estava indo nos buscar era o Pedro, que ficou preso no engarrafamento. Fizemos o check-in no hotel e saímos pra comer alguma coisa e fazer compras de última hora. Fomos ao supermercado Disco, comemos uma empanada no café ao lado e depois cada um foi pra onde lhe interessou mais. Meus tios de Vitória foram pro shopping comprar uma mala, os do Rio foram pra feirinha da Plaza Francia e eu e meus pais fomos na Morph, dentro do Buenos Aires Design.
À noite, minha tia de Vitória disse, com uma vontade nunca antes vista, que queria voltar ao Olaya. Então nós fomos, e foi um jantar perfeito para fechar a viagem!
Esqueci de comprar alfajor, doce de leite, um monte de coisa. Acho que preciso voltar!
Serviços usados na viagem.
Em Buenos Aires
Agência: LEOTour (traslados, city tour e tango). Hotéis Ayres de Libertad e Esplendor Plaza Francia.
Em El Calafate
Agências: Gigantes Patagones (Mini Trekking), Calafate Extremo e Mil Doors. OBS: Vale mais a pena mandar e-mail, pois os sites ficam desatualizados. Hotel: ACA El Calafate.
Sobre Torres del Paine. Duas agência operam o full day a partir de El Calafate. Prefira a South Road.